Pedagógicas: subsídios aos professores coordenadores: Conceitos
O
conceito de competências não é novo tanto na psicologia como na pedagogia.
Sempre que se diz o que um aluno deve aprender e o que ele deve fazer com o que
aprendeu, estamos nos referindo a uma competência. Sempre se persegue a
aprendizagem de competência nos alunos porque é um objetivo do ensino propiciar
mudanças que caracterizem desenvolvimento, seja cognitivo, afetivo ou social.
Mapeando o conceito, destacam-se algumas características importantes
mencionadas a seguir.
1. A competência se caracteriza como a capacidade de
mobilizar conhecimentos, valores, e experiências anteriores para tomar decisões
pertinentes numa determinada situação. Envolve, portanto, mais do que
comportamentos observáveis. Uma competência não se deduz apenas do ato de fazer
algo que pode ser objetivamente avaliado. Para constatá- la devem ser
considerados também os conhecimentos e valores que estão na pessoa e que nem
sempre podem ser observados.
2. Competências e habilidades pertencem à mesma
família conceitual. A diferença entre elas é determinada pelo contexto. Uma
competência sempre é mais geral em relação às habilidades que ela inclui. Mas
uma habilidade, num determinado contexto, pode ser uma competência por envolver
outras sub-habilidades mais específicas. Por exemplo: a competência de
resolução de problemas envolve diferentes habilidades – acessar e processar
informações, selecionar e interpretar dados, estabelecer relações de igualdade
ou equivalência, fazer comparações. Mas se tomamos a habilidade de processar
informações por si mesma veremos que ela envolve várias outras habilidades mais
específicas como leitura de palavras ou gráficos, cálculos, compreensão de ordenamentos
ou sequências. Processar informações é, portanto, uma competência em relação à
habilidade de leitura de gráficos. Em suma, dependendo do contexto onde está
sendo considerada, a competência pode ser uma habilidade ou, vice-versa, a
habilidade pode ser considerada uma competência.
3. A
capacidade de agir mobilizando conhecimentos e valores implica numa
aprendizagem. Portanto competências se aprendem, principalmente quando se
adquire conhecimento, que é parte indispensável do que é preciso dominar para
ser competente. Mas além de dominar o conhecimento é preciso saber mobilizá-lo
e aplicá-lo de modo pertinente àquela situação. Para isso é necessário decidir
um curso de ação. A decisão significa vontade, escolha e, portanto, valores.
Essa é a dimensão ética da competência que também é aprendida. A competência
vai além do conhecimento porque envolve o agir numa situação determinada: não é
apenas saber, mas saber fazer. Para agir competentemente é preciso acertar no
julgamento da pertinência, ou seja, posicionar-se diante da situação com
autonomia para produzir o curso de ação mais eficaz. Por esta razão a
competência inclui também a decisão e ação em situações imprevistas, o que
significa intuir, pressentir, arriscar com base na experiência anterior e no
conhecimento.
4. A
competência envolve ainda capacidade de julgamento, em situações reais e
concretas, não apenas individualmente. Uma das dimensões importantes da
competência é a da decisão e ação compartilhada com um grupo de interesses
comuns ou uma equipe de trabalho, com objetivos comuns. Sem a capacidade de
compartilhar interesses ou objetivos, é difícil haver competência. Usando um
exemplo do senso comum seria possível afirmar que competência é tudo aquilo que
a gente deseja que um cirurgião tenha no momento em que se está nas mãos dele
para fazer uma cirurgia. Ou o que a gente espera que o comandante do avião
tenha na hora em que ele está descendo num aeroporto com o teto baixo e más
condições de tempo. O que a gente pensa nesses momentos? Será que este médico
sabe como agir, principalmente se algo der errado? Esse piloto sabe fazer o
avião pousar em condições atmosféricas tão adversas? Em ambos os casos a
competência para fazer o que se espera que seja feito envolve uma enorme
quantidade de conhecimentos – de física, de geografia, dos fenômenos
atmosféricos, do funcionamento da máquina – no caso do avião. Ou de anatomia,
fisiologia, técnica cirúrgica, no caso do médico. Mas cada fragmento de ação em
ambos os casos vai requerer que os profissionais envolvidos escolham
procedimentos, decidam fazer ou não fazer algo, em função não apenas do que
conhecem, mas também em função de uma escala de valores sobre o que é correto,
o que é verdadeiro, o que é melhor em cada caso. Esses exemplos permitem retomar
o mapeamento do conceito para acrescentar mais duas características indicadas a
seguir.
5. Decisão
e experiência têm uma relação peculiar na operação de uma competência. A
decisão muitas vezes implica em certo grau de improvisação, mas de uma
improvisação orientada pela experiência. O fato de que o piloto tem muitas
horas de voo – com e sem supervisão – é uma garantia importante de que ele
consiga tomar uma decisão pertinente. Não é por outra razão que se exige do
futuro cirurgião cinco, seis anos de residência, na qual ele observa e realiza
inúmeras cirurgias com a supervisão da chefia médica que a cada momento requer
dele explicações sobre o que e porque está adotando um determinado
procedimento.
6. Decorre
dessa característica da competência o fato de que ela só pode ser constituída
em situação. Ou seja, competência não se aprende apenas pelo saber mas requer o
saber fazer. Aprende-se fazendo na situação que requer este fazer determinado.
Esse princípio é crucial para a educação: se quisermos desenvolver competências
em nossos alunos teremos que ir além do ensino para memorização de conceitos
abstratos e fora de contexto. É preciso que eles aprendam também como, quando e
para quê serve o conhecimento, é preciso aprender a aplicá-lo. 7. Finalmente, deve-se
acrescentar que o resultado, o saber fazer, é imprescindível, mas não o
suficiente para afirmar que existe uma competência. É preciso que esse
resultado seja o que é esperado, que esse fazer seja bem-sucedido, que o
produto final de uma ação seja satisfatório, correto, acertado. É fácil se dar
conta dessa característica porque a própria palavra competência traz implícita
essa noção de acerto. Competência é quase um sinônimo de capacidade, de
sucesso, de fazer bem-feito. Dizemos “fulano” é competente para fazer tal coisa
e isso é suficiente para emitir um julgamento de valor sobre essa pessoa.
Conceitos: Retomando o conceito de competências Guiomar Namo de Mello,
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