Para quem  gosta de ler e  ...e ler
Encontrei esse texto em meus arquivos,  não sei a fonte.. mas com certeza você  gostará de lê-lo.




Leitura de "Memórias de Emília", de Monteiro Lobato
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Especial
Introdução
Por que ler literatura? Ana Maria Machado nos esclarece por que ler literatura é relevante e chama a atenção para o papel da escola na formação do leitor de obras literárias:
Uma sociedade que se quer democrática tem que (...) garantir a todos que seja saciado seu direito à leitura. E essa leitura, sobretudo em países que ainda estão se construindo, não pode ser apenas uma leitura de entretenimento e de aquisição de conhecimento - embora esse tipo de livro também seja importante e não possa ser desprezado. Mas é indispensável que também se leiam textos criadores, textos que tragam o prazer de pensar, interrogar, sonhar, ligar-se com o resto da humanidade (inclusive gentes de outras épocas e de outros lugares), textos que brinquem com a sonoridade das palavras, que aproximem conceitos díspares, que desenvolvam a inteligência e o espírito crítico. Textos que usem as palavras de maneira artística, rica, sublinhando a beleza que possa nascer do contato entre elas, valorizando a multiplicidade de significados possíveis que elas possam ter, se abrindo para a infinidade de conceitos que elas podem apontar. E, como, na maioria das vezes, grande parte da população só vai se tornar leitora se tiver contato com bons livros através da escola e do sistema de ensino, é de fundamental importância que a escola não desperdice essa oportunidade e não recomende bobagens nem desenvolva atitudes que funcionem como vacina contra a leitura, de tanto que criam anticorpos no leitor.
(Contracorrente: conversas sobre leitura e política, Ana Maria Machado, Ed. Ática, São Paulo)

Por que ler Monteiro Lobato?
No topo da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que diagnostica e mede o comportamento do leitor brasileiro a partir de cinco anos de idade, aparece a obra de Monteiro Lobato (1882-1948). Em 2008, essa pesquisa revelou que, depois da Bíblia, a obra mais importante para os leitores brasileiros é a de Lobato.
Sua obra tem encantado milhões de leitores brasileiros. Grande parte dos escritores de literatura infantil brasileira, que vieram depois dele, declaram a importância que a leitura de Lobato teve em suas vidas:
E quando mudamos para a Epitácio Pessoa, de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas, ganhei um livro de Monteiro Lobato! Ai, que maravilha maravilhantemente maravilhosa! - escreve Sylvia Orthof em Livro Aberto, editora Atual, 1996.
Ana Maria Machado: Um dos livros que mais me marcou foi "Reinações de Narizinho", do Monteiro Lobato. A grande diferença do Lobato é que ele escrevia como as pessoas falavam. Além disso, o ambiente cotidiano e a mistura da realidade com a fantasia, tão presentes nos livros dele, também estão nos meus.

Ruth Rocha: Um livro que marcou minha infância foi "Reinações de Narizinho", o primeiro da série do Sítio do Picapau Amarelo que eu li. Acho que minha obra tem muita influência do Monteiro Lobato, penso muito como ele. Por que é com ele que entra o humor na literatura.
Pedro Bandeira: "Reinações de Narizinho" me marcou e, além disso, Narizinho foi minha primeira namorada... Creio que tentei "imitar" o processo construtivo do livro na minha primeira obra, "O Dinossauro que fazia au-au".

Antonio Candido: O senhor Monteiro Lobato é dos valores mais indiscutidos da nossa literatura moderna. Velhos e moços, passadistas e modernistas, brigados em tudo o mais, concordam plenamente no culto que lhe votam.

(Depoimentos publicados em reportagem da Folhinha de São Paulo, de 7/8/2010)

Mais conhecido pelas jovens gerações por meio das versões em diferentes mídias de seus livros para o público infantil, queremos aqui destacar o grande escritor, propondo a leitura integral da história
Memórias da Emília. Por tudo que Lobato significa, "fundador de nosso imaginário" nas palavras de Marisa Lajolo, "primeiro reformador da prosa brasileira", para Oswald de Andrade, "dos valores mais indiscutidos da nossa literatura moderna", para Antonio Candido, é dever da escola incluir no currículo a leitura de suas obras. O encantamento que suas histórias provocam é inesgotável. Não tem idade para começar a ler Lobato, e não parar mais.

Por que ler Memórias da Emília?
Pela história em si e pela qualidade literária, do ponto de vista da originalidade, criatividade, imaginação e dos recursos linguísticos utilizados por Lobato. É uma história muito divertida! A principal personagem é Emília, a boneca de pano irreverente, que diz o que pensa e não teme críticas. É a única no Sítio a ter suas memórias. Para escrevê-las chama Visconde para ser seu secretário.
Lobato inova na narração. São três narradores diferentes: Emília, Visconde de Sabugosa e um narrador central. Em Memórias da Emília existe uma reflexão metalinguística que percorre a obra inteira, além de forte marca intertextual. A metalinguagem traz para primeiro plano a discussão de procedimentos da escrita, tendo como foco o que são e como se escrevem memórias. A intertextualidade se manifesta na coexistência na obra de personagens de origens culturais diferentes. Peter Pan, Alice, Popeye, Anjinho vindo do céu, Rin-Tin-Tin, Capitão Gancho. São citados, ainda, Robinson Crusoé e Dom Quixote.
Além disso, Lobato admirava as conquistas de seu tempo. O cinema tem papel de destaque em Memórias da Emília, e não são esquecidos o rádio, o jornal e o telégrafo.
Objetivos
- Saber quem foi o escritor Monteiro Lobato: em que época viveu, o que escreveu e sua importância para a literatura brasileira.
- (Re)conhecer o Sítio do Picapau Amarelo e os personagens que lá vivem com a leitura de alguns capítulos do livro
Reinações de Narizinho.
- Ler integralmente e compreender
Memórias da Emília, de Monteiro Lobato.
- Distinguir o gênero memórias de outros gêneros confessionais.
- Desenvolver comportamentos leitores.

Conteúdos
- Biografia de Monteiro Lobato
- Leitura de
Memórias da Emília, de Monteiro Lobato
- Gênero memórias.

Anos
Do 6º ao 9º ano.

Tempo estimado
2 meses

Material necessário
- Livro
Memórias da Emília, de Monteiro Lobato, Ed. Globo.
- Livro
Minhas memórias de Lobato, contadas por Emília, Marquesa de Rabicó, e pelo Visconde de Sabugosa, de Luciana Sandroni, Companhia das Letrinhas.
- Conto
Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector, publicado no livro Felicidade Clandestina, editora Rocco
- Livro
Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Capítulos "Narizinho Arrebitado - I Narizinho" e "O Sítio do Picapau Amarelo - I As jabuticabas"

Desenvolvimento

1ª etapa: Preparação do professor
Não inicie o trabalho sem ter estudado quem foi Monteiro Lobato. Uma sugestão é ler Minhas memórias de Lobato, contadas por Emília, Marquesa de Rabicó, e pelo Visconde de Sabugosa, de Luciana Sandroni, editado pela Companhia das Letrinhas. Uma biografia bem humorada do autor, uma paródia de Memórias da Emília. Rememore sua relação com os livros infantis de Lobato. Caso você tenha algum livro dele em casa, leve para a classe e conte para os alunos por que você ainda o tem guardado. Se você não teve oportunidade de ler Lobato, em nenhum momento da sua vida, aproveite agora para, junto com seus alunos, saborear o que há de mais divertido em nossa literatura.
Leia Memórias da Emília cuidadosamente em casa, antes de iniciar com a classe. No início, você poderá estranhar o vocabulário, algumas expressões e gírias da época. Afinal, Memórias da Emília foi publicado em 1936! Procure saber o significado das palavras desconhecidas. Se você tiver contato com alguma pessoa com mais de 50 anos, leve uma lista do que você desconhece e peça ajuda a ela. Informe-se também sobre personalidades da época e personagens de ficção que são citados na obra.

2ª etapa: Preparação da turma
Explique para a turma a razão da escolha dessa obra, falando do lugar de destaque que Monteiro Lobato ocupa na Literatura Brasileira. Pergunte o que sabem sobre esse autor e se já leram alguma(s) de suas obras. Provavelmente responderão que conhecem suas histórias da televisão. Peça que caracterizem o Sítio e os personagens: Dona Benta, Tia Nastácia, Pedrinho, Narizinho e Emília. Anote na lousa o que falarem. Complemente as informações biográficas com leitura de trechos do
Minhas memórias de Lobato selecionados anteriormente. Antes de continuar, pergunte para os alunos de que personagem eles mais gostam e por quê.
Para complementar a caracterização do Sítio e dos personagens, leve para a aula o livro Reinações de Narizinho e leia para a turma os capítulos Narizinho Arrebitado - I Narizinho e O Sítio do Picapau Amarelo - I As Jabuticabas. Nesses capítulos são apresentados o Sítio do Picapau Amarelo e os personagens que lá vivem. Os trechos incluem a chegada de Pedrinho ao Sítio, que mora na cidade de São Paulo com a mãe. Peça para a turma comentar as diferenças e semelhanças com o que eles disseram anteriormente e você anotou na lousa ou em cartaz. Esses conhecimentos, que você está ajudando a ativar, vão definir a natureza da interação dos alunos com a história que será lida.
3ª etapa: Primeiros contatos com Memórias de Emília
Se fizer parte do acervo da escola, leve para a classe o maior número possível de exemplares de
Memórias da Emília. Apresente o livro. Dependendo da edição, o volume será maior ou menor, com ilustração colorida ou em preto e branco. Se houver vários exemplares, distribua-os para pequenos grupos. Caso contrário, faça a análise exploratória do livro em parceria com a classe: título, autor, ilustrador, ano de edição, orelhas, capa, quarta-capa, índice, títulos dos capítulos. Essa análise, que antecede a leitura, vai permitir ao aluno antecipar com maior ou menor assertividade o assunto e a ideia principal do livro que será lido.
Com base na análise feita, levante com a classe as expectativas de leitura. Acrescente como é a personalidade da Emíla: independente, mandona, irreverente, diz o que pensa e não teme críticas. Antecipe, também, que em "memórias", as pessoas contam suas vidas, repensam e rearranjam os fatos, de modo a ficar mais interessante para o leitor. Os verbos são utilizados no passado e seu ponto de vista é o de quem está diretamente ligado à história, sendo a narração feita em primeira pessoa.
Peça, então, aos alunos que, em duplas, conversem e depois escrevam em folhas de papel do mesmo tamanho o que esperam encontrar no livro Memórias da Emília. Recolha as folhas com essas expectativas de leitura e organize-as no mural. Lá deverão ficar expostas para constante confronto enquanto durar o trabalho.
4ª etapa: Leitura compartilhada
Antes de iniciar a leitura compartilhada, peça que durante toda a leitura da obra, a classe vá anotando os títulos dos livros que vão sendo citados na história. Avise que todos ficarão responsáveis por ir levando para a classe esses livros, que serão buscados em casa ou na escola. Eles ficarão à disposição para quem quiser lê-los. Confira abaixo o que não deixar de ser observado em cada capítulo:

No
capítulo I, chame a atenção para a discussão do que são "memórias" e para a dificuldade de se começar um texto.
No
capítulo II, peça para observarem a mudança do narrador, a partir de O Anjinho de Asa Quebrada.
No
capítulo III, oriente uma busca na internet para saberem de que época são as personalidades citadas: Presidente Roosevelt, Négus da Etiópia, Duce da Itália, Fuehrer da Alemanha. Questione se seria possível acontecer de fato uma conferência pacífica entre esses soberanos para tratar da ida das crianças ao Sítio para conhecer o Anjinho. Proponha uma discussão sobre este ponto.
No
capítulo IV, converse sobre os personagens da literatura inglesa Alice e Peter Pan.
Nos
capítulos de VI a IX, converse sobre Capitão Gancho além de Popeye, personagem americano de história em quadrinhos.
No
capítulo X, discuta o ponto de vista da Emília sobre esperteza.
Nos
capítulos XII e XV, discuta o que é ponto de vista. No XII, O Visconde diz o que pensa da Emília. No XV, Emília fala de si própria. As impressões de um e de outro não coincidem.
Nos
capítulos XIII e XIV, converse sobre o sucesso do cinema na década de 1930. Oriente uma busca na internet para saber quem foi Shirley Temple, a famosa atriz mirim daquela época. Emília e Shirley brincam de fazer um filme com base no livro Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes. Conte para a classe a história de Dom Quixote, seu escudeiro Sancho Pança e o cavalo Rocinante.
Ainda no
capítulo XIV, Dona Benta não concorda com a Emíla. "Em memórias a gente só conta a verdade... Como então se põe a inventar tudo isso?". Nesse ponto, Emília define que escreveu "memórias fantásticas". Promova uma reflexão sobre o gênero memórias. Compare-o a diário, que é também um texto confessional, mas escrito à medida que os fatos vão acontecendo. Como em memórias, no diário, retorna-se ao passado, mas a um passado não distante, e sim recém acabado.

5ª etapa: Compartilhando impressões depois da leitura do livro
Terminada a leitura é momento de compartilhar as impressões que o texto provocou. Marque uma data com a classe e avise que, nesse dia, eles debaterão o livro
Memórias da Emília. Aqui não haverá respostas certas ou erradas. O objetivo é promover a discussão de ideias. O debate ajuda a aprofundar a reflexão e permite uma melhor compreensão da obra. Antecipe questões. Algumas sugestões: para que escrever memórias? A quem compete escrever as memórias de alguém? Emília deveria se considerar a autora de suas memórias?

Avaliação

Em função dos objetivos propostos, solicite atividades que vão evidenciar a dimensão da aprendizagem dos alunos. Seguem algumas opções:
- O debate permitirá uma avaliação da compreensão leitora de
Memórias da Emília, de Monteiro Lobato.
- Peça para os alunos prepararem uma apresentação de divulgação de Monteiro Lobato e seus personagens principais para as outras turmas da escola. Divida a classe em grupos e distribua entre eles as tarefas de apresentar a biografia de Monteiro Lobato, o Sítio do Picapau Amarelo e os personagens que lá vivem conforme estão no livro
Reinações de Narizinho, por meio de cartazes.
- Produção de texto no gênero memórias: faça uma reflexão com a classe sobre narração em 1ª e 3ª pessoa. Peça que imitem Visconde (no capítulo XII) e Emília (no capítulo XV). Solicite que cada um imagine e escreva em 3ª pessoa o que um parente ou amigo pensaria dele. Em outro momento, cada aluno escreve em 1ª pessoa sobre si mesmo. Enquanto escrevem, acompanhe as duplas, auxiliando-as na adequação da linguagem. Quando os textos estiverem prontos, em duplas, cada aluno lerá para o colega o que escreveu.

Desdobramentos
Várias propostas de enriquecimento do conteúdo trabalhado poderão surgir, como as leituras de:
-
Minhas memórias de Lobato, contadas por Emília, Marquesa de Rabicó, e pelo Visconde de Sabugosa, de Luciana Sandroni;
-
Memórias de um Cabo de Vassoura, de Orígines Lessa;
-
Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida
- o conto
Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector;
-
Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
- os livros citados em
Memórias da Emília e que ficaram expostos na classe;

Além disso, é possível propor que cada um escreva suas "memórias fantásticas" para compor um livrinho de memórias da turma.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Monteiro Lobato, livro a livro: Obra Infantil, Marisa Lajolo, João Luís Ceccantini (organizadores). Editora UNESP: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.
Estratégias de leitura, Isabel Solé. ARTMED, 1998.
Memórias da Emília, Monteiro Lobato. Editora Globo
Reinações de Narizinho, Monteiro Lobato. Editora Globo
Minhas memórias de Lobato, contadas por Emília, Marquesa de Rabicó, e pelo Visconde de Sabugosa, Luciana Sandroni, Companhia das Letrinhas, 2005
Felicidade Clandestina, Clarice Lispector. Editora Rocco, 1998

AUDIOVISUAL
DVD do Sítio do Picapau Amarelo, Memórias da Emília, direção Geraldo Casé, versão exibida em 1978, Som Livre - Globo Marcas, 2008
CD Sítio do Picapau Amarelo
Consultoria Heloísa Cerri Ramos


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